Aquele momento que te sentes suspenso no vazio depois de um choque tão mas tão grande que parece que o impacto te projectou e separou dos teus sonhos, do que estavas a planear fazer, do que já estavas a fazer, e enquanto ficas ali parado imóvel ou pelo menos é assim que te pareces estar, vês tudo isto a sair de ti, a cair, a afastar-se e tu sem os conseguires agarrares, e tu sem te conseguires mexer, apenas e só os consegues ver a sair de ti... um por um... para que os vejas, para que os sintas como a última vez. Passam na velocidade certa para que todos os pormenores não sejam esquecidos, sintas os cheiros os sabores o toque os barulhos. Passam na distância certa para não os conseguires agarrar, nem se quer tocar. Apenas passam. E tu apenas vês.
E depois de passarem continuas a ver cada um deles a partir-se em mil pedaços. Pedaços tão pequenos que seria impossível agarra-los de tão minúsculos que ficaram.
E tu ali... imóvel... incapaz de te mexeres... apenas suspenso.